domingo, 12 de maio de 2013

Fora do Armário e Dentro da Castidade - David Morrison [Testemunho]


Observação ao Leitor: "Os Conselhos de ambos CERC Canadá e CERC EUA estão cientes de que o tema da homossexualidade é uma controvérsia que afeta profundamente a vida pessoal de muitos norte-americanos. Ambos Conselhos reiteram fortemente o ensino catequético, de que pessoas que se auto-identificam como gays e lésbicas devem ser tratadas com “respeito,  compaixão e sensibilidade” (CIC #2358). Os quadros também apoiam o direito da Igreja falar sobre aspectos desta situação de acordo com o seu próprio entendimento. Os artigos nessa seção foram escolhidos para lançar luz sobre como os entendimentos da Igreja se cruzam com o desenvolvimento social, moral e legal na sociedade deste século. CERC não publicará artigos que, na opinião do editor, exponha gays e lésbicas ao ódio ou à intolerância.
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Minha jornada de abandonar o ativismo dos direitos homossexuais e optar viver uma vida católica casta, começou seriamente, quando eu li os textos de um moderno mártir protestante, Dietrich Bonhoeffer.
Além das lutas contra o aborto e a eutanásia, não deve haver maior batalha hoje na Igreja do que a polêmica sobre o homossexualismo. Em um tempo que a Igreja enfrenta a tempestade do abuso de coroinhas por sacerdotes, quando grupos de direitos gay fazem da Missa alvo de demonstrações sacrílegas, e quando o clero desobediente preside “casamentos” entre o mesmo sexo, não é de se admirar que Católicos Tradicionais abordem pouco o tema, mas com confusão, frustração e raiva. A maioria dos católicos nos bancos não aceitam a homossexualidade, não querem entendê-la, e desejam, principalmente, que o tema vá embora – ou ao menos que volte ao armário “aonde isto pertence”. Outros, a minoria, associados em particular com a bancada da dignidade dos gays, só ficam muito contentes em ter o tema discutido – desde que esta discussão leve na direção de a Igreja mudar sua doutrina sobre os atos homossexuais.

Tanto como um ex-ativista homossexual quanto um atual fiel católico, comprometido com a Castidade, eu exorto que todos os Católicos, leigos e clérigos, unam-se para pregar a plenitude do ensinamento da Igreja sobre este assunto. Eu imploro isso porque eu acredito que isso seja um ensinamento cheio de dignidade, verdade e auto-respeito para todas as pessoas, uma vez que, se pregado com integridade e firmeza, trará muitos para uma vida plena com Jesus Cristo.

Para fazer isto, eu irei começar contando um pouco da minha própria história. Eu faço isso, não para tornar público algo que deveria ser privado, mas porque muito das discussões públicas sobre o assunto ou é tendencioso ou é distante da realidade da vida das pessoas homossexuais.

Minha jornada de ser um ativista dos direitos homossexuais a viver uma vida católica casta, começou seriamente, quando eu li os textos de um moderno mártir protestante, Dietrich Bonhoeffer. Antes de ler Bonhoeffer, minha pequena vida cristã foi marcada primeiramente por minha troca do ativismo dos direitos gays para um ativismo similar nos bancos da igreja anglicana. 

A orientação homossexual e a vida que eu construí em torno dela eram tão centrais à minha identidade primária que eu não conseguia entender como alguém poderia se opor ao que eu estava fazendo. Desaprovação, dúvidas, objeções de todos os tipos só podiam ser o resultado de uma confusão sobre o que a Bíblia diz sobre homossexualidade ou intolerância total.

Afinal, eu era a prova viva de que as pessoas homossexuais podiam ter uma vida sexualmente ativa que fosse tanto espiritual como temporariamente satisfatória. Eu tinha um amante de cinco anos, um condomínio em uma grande área urbana, um trabalho gratificante, e uma vida de igreja como um episcopal, que, embora não fosse perfeita, ainda era um tesouro. O que mais eu poderia querer? No entanto, na oração e nos momentos de calma reflexão, não pude deixar de notar alguns espinhos que escorregavam na minha vida “alegremente” modelada.

Como um ativista comprometido que eu era, eu tinha que admitir a superficialidade e a pura improbabilidade de muitos teólogos e estudiosos simpatizantes com a causa gay, no que diz respeito à Bíblia e aos atos homossexuais. Além da observação sólida de que a Bíblia não discute a orientação homossexual por si só, autores tão diversos como John McNeill (ex-SJ), Sylvia Pennington, John Boswell, e Virginia Molenkott foram criando especulações bíblicas que, embora criativas, pediam ao seu público para que suspendessem a crença sobre o significado claro do Texto original.

Quando se discute o que o apóstolo Paulo "realmente" queria dizer quando ele condenou os atos homossexuais em Romanos 1:18-23 e 1 Coríntios 6:8-11, os autores alegam que Paulo deveria estar condenando algo diferente das relações homossexuais de hoje, já que ele poderia não ter conhecido ninguém que confessou sua própria orientação homossexual. Um argumento para abençoar os atos homossexuais foi baseado neste raciocínio, e isto me fazia concluir que, se Paulo conhecesse a orientação sexual dos participantes, ele poderia ter aprovado os atos, embora nada em suas outras cartas indicasse que seria dessa forma.

Da mesma forma, as condenações contra atos homossexuais em Levítico foram derrubadas com a sugestão de que os atos condenados tinham mais a ver com o ritual de prostituição do que com a homossexualidade "amorosa". Sodoma e Gomorra foram destruídas (Gênesis 19:1-25), estes autores alegam, não por causa do escândalo homossexual, mas porque as pessoas das cidades eram gananciosas, corruptas e inóspitas a estranhos.

Cada um deles, ao reivindicar a fidelidade à exegese bíblica tradicional, levou a interpretação a uma nova direção radical e ignoraram a forte possibilidade de que a ganância, a corrupção e a falta de hospitalidade poderiam ter ido de mãos dadas com a ofensa homossexual. Seria razoável supor que os atos homossexuais não tinham nada a ver com a destruição das cidades, tendo em vista a grande parte que eles desempenharam na fuga dramática de Ló? 

Então, havia pequenas rachaduras na fundamentação teórica sobre a qual eu tinha construído a minha vida. Também houve problemas na forma como eu via a "teologia gay" vivida à minha volta. Muitos dos gays cristãos que eu conhecia pouco se diferenciavam em suas vidas dos gays pagãos, agnósticos e ateus. Os cultos cristãos homossexuais, enquanto que por algumas vezes de adoração, foram também casualmente tão sexualmente carregados e "pontos" de procura de parceiros sexuais quanto a maioria dos bares que visitei. Logo no início eu decidi tentar fazer da vizinhança não-gay da paróquia Episcopal meu lar espiritual, e minha experiência lá, contrastou fortemente com o que eu vi do "culto" gay, forçando-me a admitir que muitos dos meus argumentos em favor do cristianismo gay foram modelados mais em um ideal teórico do que na experiência prática.

A última fonte da dúvida “pré-Bonhoeffer” veio das amizades que fiz com os não-gays, cristãos teologicamente ortodoxos. Ali estavam pessoas que pelo que já tinham me dito, deveriam odiar o próprio chão que eu pisasse e me desprezariam por causa da minha orientação sexual. Afinal de contas, muitos dos gays não tinham ido para as cidades para fugir de cristãos tradicionais? No entanto, as pessoas que encontrei me amaram, mesmo quando discordavam veementemente das escolhas que eu estava fazendo na minha vida. Concordância, eu vim a perceber que podia ser bom, mas que não era um pré-requisito para a amizade e afeto real. A terra estava madura para o Espírito Santo trabalhar a revolução, e esta revolução começou de uma forma dramática, com Dietrich Bonhoeffer.

Lembro-me claramente do dia. Foi no início da primavera e da chuva. Meu então namorado e eu passamos a maior parte do dia miserável em um shopping e nos dividimos para buscarmos nossos próprios interesses, ele nas roupas e eu nos livros. Eu estava em uma livraria de desconto, debruçado sobre uma pilha desorganizada de livros, quando eu vi, o “The Cost of Discipleship” (Custo do discipulado), de Dietrich Bonhoeffer. Eu o abri, e ainda me lembro da primeira frase como se eu estivesse lendo agora: "A graça barata é a inimiga mortal de nossa Igreja. Estamos lutando hoje por graça de alto custo."

Eu fui fisgado. Era como se aquelas linhas tivessem sido escritas apenas para mim naquele exato momento. Buscando os trocados em meu bolso, eu comprei o livro, trouxe-o para casa, e o devorei. Aqui, deste homem martirizado por ordem de Adolf Hitler, ouvi uma mensagem que tanto me dominou como me aterrorizou. Será que eu, eu poderia, dar a minha vida por Cristo? Onde eu tinha me comprometido? Será que ser um cristão realmente significa seguir o que o meu mundo diz, ou será que ser cristão significa ser diferente, sendo totalmente de Cristo?

Rapidamente comecei a ler tudo sobre Bonhoeffer que eu conseguia por em minhas mãos. Com Bonhoeffer vieram outros autores cristãos comprometidos, alguns deles Católicos. As Confissões de Agostinho me convenceu do meu próprio acanhamento espiritual e me encorajou de que Deus nunca desiste de nós. O Castelo Interior de Teresa d’Avila me impressionou com a profundidade possível de comunhão na oração, e a vida e os escritos de Madre Teresa me mostrou o fruto potencial de uma vida tão devota.

Estes tomaram lugar na minha estante ao lado de livros de Richard Foster, que escreve poderosamente da tradição Quaker. Sua “Celebration of Discipline and The Challenge of the Disciplined Life “ (“Celebração da Disciplina” e “O desafio da vida disciplinada”) me fizeram querer voltar a analisar o papel do cristianismo desempenhado na minha vida ‘tão moderna’, especificamente na área da minha identidade e sexualidade. Aos poucos, comecei a entender que a minha sexualidade não era algo que eu tinha, mas algo que Deus possuía em mim, e que o testemunho claro das Escrituras era uma dupla finalidade para a sexualidade. Sexo, na intenção de Deus, destina-se a fazer duas coisas: prover a procriação dos filhos e construir maridos e esposas no amor, respeito e vida em comum. Como isto conciliaria com o tipo de sexo com o qual eu estava familiarizado, particularmente à luz da sua natureza inevitavelmente transitória? Afinal, o sexo homossexual é completamente e inalteravelmente divorciado da responsabilidade da procriação. Isso é realmente como Deus pretendia que usássemos nossa sexualidade?

Depois de muitos meses de indecisão, eu não poderia permanecer na desonestidade. A vida que eu estava vivendo por tanto tempo foi uma vida de “graça barata” e eu sabia disso. À luz da Escritura, Tradição e reflexão eu só poderia concluir que Deus exigiu de mim a mesma coisa que Ele exige de todos os cristãos solteiros: uma vida casta. E foi assim que eu abracei a fé e abandonei quase tudo o que eu pensava ser mais importante e querido para mim. Se Cristo queria castidade, eu seria casto. Então, eu coloquei tudo e todos em Suas mãos.

A partir daí a minha viagem para a fé católica foi rápida, eu fui seguindo nessa direção guiado pelas três realidades que fazem a Igreja Católica tão atraente para os homossexuais que buscam viver na pureza sexual e fidelidade.

Em primeiro lugar, a Igreja Católica é a única instituição cristã que não só prega a verdade sobre a castidade para as pessoas homossexuais, mas também oferece ajuda prática e tangível para alcançá-la.

Em segundo lugar, a Igreja Católica é a única grande instituição Cristã que reconhece que nós realmente não sabemos o que causa a homossexualidade. A Igreja não vai exigir conversão heterossexual como condição de comunhão, nem vai decidir, de antemão, que as pessoas homossexuais não sejam capazes de serem responsáveis por suas próprias decisões e ações. Esta posição inclui, como corolário, a dramática noção contra-cultural de que as pessoas homossexuais têm tanta dignidade humana quanto qualquer outra pessoa e não merecem ser apadrinhadas (serem tratadas de forma amigável, mas por pessoas que acreditam que elas não são muito inteligentes ou experientes) - algo que a minha Igreja Episcopal mais liberal de espírito fez (e ainda faz) com deprimente regularidade.

Finalmente, a Igreja Católica possui a verdade, e não apenas neste dogma, mas em todos os seus dogmas. Buscar ajuda para viver uma vida casta pode ter sido a “grande estrada que viajei para Roma”, mas uma vez que isto estava em minha visão, eu podia ver muito mais. A Igreja Católica, eu vim a compreender, exprimia em si mesma um meio de graça no meu desejo de levar uma vida mais próxima de Deus. Em seus sacramentos, particularmente no da Reconciliação e da Eucaristia, oferece um caminho extremamente importante para aproximar-se mais de Jesus, e os ofereceria a mim, seja qual fosse a minha orientação sexual.

Sim, eu tive dúvidas. Ninguém na minha família nunca tinha sido católico. Muitos deles eram e continuam a ser anti-católicos. No entanto, a verdade que havia me atraído até aqui não me deixava demorar mais tempo do que o absolutamente necessário, e eu entrei na Igreja Católica na Páscoa de 1993.

Como tem sido? Difícil, mas maravilhoso. Nada poderia ter me preparado para a força que eu alcancei de uma relação católica com Cristo e ninguém poderia ter me preparado para o quão difícil seria perder amigos e tensas relações familiares por causa dessa escolha. Quem pensa que existe uma lacuna entre o Catolicismo e o evangelismo ou não é Católico ou não está vivendo uma vida Católica de uma forma aberta. Simplesmente confessar a crença em uma visão católica de Cristo é tomar uma posição contra as ideias aceitas pela maioria da sociedade, o que exige apologética e explicação. Fiéis católicos que são homossexuais fazem isso todos os dias e encontram em ambos o testemunho exterior e o diálogo interior para um caminho notável para uma fé mais profunda.

Às vezes me perguntam o que eu espero do futuro, e eu, por vezes, me perco no tempo tentando responder. A verdade da doutrina da Igreja Católica sobre o tema da homossexualidade e dos atos homossexuais é tão profundo e uma expressão tão real do amor que ela pode facilmente dominar a conversa. No entanto, é um ensinamento que é freqüentemente ignorado entre os católicos tradicionais e ridicularizado pelos membros heterodoxos da Igreja. Isto é uma vergonha e deve ser corrigido, para o bem de todas as centenas de milhares de pessoas que buscam uma mensagem semelhante e podem entrar na Igreja, se a ouvirem. Na minha opinião, clérigos e leigos, temos a obrigação de dizer a verdade de Cristo onde quer que estejamos e a todos que possam ouvi-la. Não podemos permitir que a orientação de uma pessoa seja um problema, se quisermos ser fiéis Àquele que nos chamou. Aqui, então, é o que eu espero que os católicos façam no futuro:

Em primeiro lugar, espero que todos os católicos aprendam o que a Igreja ensina sobre homossexualidade. Homossexualidade, na visão católica, é uma tendência para atos sexuais desordenados, mas não é um pecado em si. Neste ponto, pode-se dizer que não é mais pecaminoso do que uma inclinação heterossexual para a fornicação ou adultério. Não se pode dizer que a grande maioria dos homossexuais puderam optar por ter os desejos que têm, e muitos, inclusive eu, se encontram vivendo com eles, nas palavras do Catecismo da Igreja Católica, é uma "provação" (CIC 2358).

Em segundo lugar, espero que os católicos superem e parem de se chocar e desaprovar que as pessoas homossexuais existem no nosso mundo e em nossa cultura. Esta é uma atitude que vai além da simples e devida desaprovação dos atos homossexuais, vem perigosamente próximo a se condenar os homossexuais como seres humanos
.
Eu acho que todos nós devemos concordar que isso é algo que Jesus Cristo não faz e não iria fazer e, de fato, adverte-nos a não fazer (Mateus 7:1-5, Lucas 6,36-37). Esta disposição, creio eu, tem feito muito para aumentar as fileiras de católicos homossexuais cujo comportamento parece buscar o inferno - e não simplesmente por causa da cegueira do pecado, mas também porque ninguém jamais ofereceu-lhes a verdade no amor. O amor sem verdade pode se deteriorar em egoísmo violento, mas a verdade sem amor é brutal.

Em terceiro lugar, por mais difícil que possa ser, os fiéis católicos devem aprender a reconhecer que nem todos os homossexuais são molestadores de criança. Os escândalos atuais de padres que abusam de coroinhas emprestou um nível de popularidade a este prejuízo, mas fazer com que o termo "pederasta" intercambie com "homossexual" não é apenas falta de caridade, mas faz fronteira com a calúnia.

Em quarto lugar, espero que o clero católico encoraje mais as pessoas homossexuais sobre a sua dignidade como seres humanos, criados à imagem de Deus, e a sua vocação à castidade, que eles compartilham em virtude daquela dignidade. Mais homilias devem tomar esta advertência do Catecismo para o coração: "Por ser à imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é apenas alguma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com outras pessoas, e é chamado, por graça, a uma aliança com seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta de fé e de amor que ninguém mais pode dar em seu lugar "(CIC 357 ).

Esta dignidade essencial é insultada quando os católicos tradicionais condenam as pessoas homossexuais sem controle e quando os católicos heterodoxos apadrinham-nos, tentando fazer crer que a atividade homossexual – como qualquer outra atividade genital fora do casamento, não é pecaminosa e prejudicial para a nossa relação definitiva com Deus. Ironicamente, ambos os grupos são culpados da mesma atitude: a definição das pessoas homossexuais não pela virtude de que são capazes com a graça de Deus, mas pela atividade que a graça pode capacitá-los a resistir.

Em quinto lugar, espero que mais bispos, clérigos, religiosos e leigos reconheçam e apoiem o poderoso ministério do padre John Harvey, O.S.F.S., e seu grupo, Courage. A partir de uma pequena semente de preocupação, A organização do padre Harvey tem crescido ao longo dos anos para se tornar uma presença vital e de apoio a milhares de pessoas homossexuais que estão deixando uma vida gay ativa ou que lutam privadamente contra uma inclinação ao pecado homossexual.

Filiais do Courage em todo o país oferecem um ministério importante de compaixão porque muitas vezes é nesses locais que os fundamentos do dogma da Igreja podem ser concretizados na amizade casta. Não é bom para o homem ficar sozinho, a Escritura ensina, e grupos como o Courage podem fornecer um antídoto necessário para a solidão ou para o isolamento emocional, que pode atingir muitos que procuram viver uma vida casta. A Igreja reconhece esta necessidade: "As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes de autodomínio aprenderão a liberdade interior, às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente da perfeição cristã "(CIC 2359).

Tendo em conta que este ensinamento é a doutrina oficial da Igreja, como é que tão poucas das dioceses nos Estados Unidos têm uma filial do Courage? É um escândalo que algumas dioceses ainda nem exploraram começar uma filial do Courage - ou terem rejeitado categoricamente uma. Negar aos católicos homossexuais um refúgio ao pé da cruz é um pecado contra a caridade e fornece evidências preocupantes de uma mesquinhez de espírito.

Em sexto lugar, se há um ensino abrangente que a Igreja deveria enfatizar no futuro, não só para os católicos homossexuais, mas para toda a cristandade, seria o papel de que Cristo, nosso Redentor, desempenha na formação de nossa identidade primária.

Identidade é como um par de óculos. É através da nossa compreensão de nós mesmos que nós interpretamos e vemos Deus, as pessoas, e nosso mundo. É por isso que Paulo, ao escrever para a Igreja em Corinto, pela segunda vez, explicou: "Por isso, nós daqui em diante a ninguém conhecemos de um modo humano. Muito embora tenhamos considerado Cristo dessa maneira, agora já não o julgamos assim."(2 Coríntios. 5:16).

O que era isso sobre seus leitores que Paulo pensou que iria mudar a maneira deles olharem para si mesmos e uns aos outros? Isso era a vida na luz da fé em Cristo Jesus. Considere esta definição de "homossexualidade", que eu desenvolvi após mais de uma década de reflexão sobre a pergunta: Ser gay significa doar-se acima de sua orientação sexual até o ponto em que isso se torna um fundamento e o centro de sua identidade.

Uma pessoa pode ser alguém com uma orientação homossexual, mas não pode ser "gay" no contexto moderno e ser uma pessoa com apenas uma orientação homossexual. No ato de auto-conhecimento, "sair do armário", que é tão importante para a comunidade gay, a pessoa sacrifica a personalidade individual em favor da identidade do grupo. A orientação homossexual passa de um aspecto periférico da personalidade a ser um aspecto definidor.

Se você é um cristão que tenha feito essa escolha, eu acredito que não há razão para examinar seu coração para a evidência de idolatria. Tenho observado que uma vez que uma pessoa tomou a decisão de que ele não tem apenas a orientação homossexual, mas é gay, então a orientação tende a ser um aspecto dominante da sua identidade e tudo o mais - a sociedade, a fé, instituições e até mesmo Deus - serão vistos e julgados por aquela lente particular. A orientação homossexual não é uma escolha para a maioria das pessoas, mas ser gay é, e é essa escolha que motiva grupos homossexuais a mudar da dignidade para o mal comportamento.

Tal entendimento errado da nossa identidade, creio eu, é a fonte desses erros desastrosos, porque quando criamos raízes em qualquer coisa fora de Cristo prejudicamos nossos esforços em obedecê-lo ou segui-lo.

Se eu, seja homossexual ou não, não unir a minha identidade primária em primeiro lugar com a de Cristo, então qualquer noção que eu possa ter de dominar ou conter o comportamento nunca terá sucesso. É a identidade de Cristo, todo o seu ser presente na Eucaristia e lembrado no Credo, ao qual devo minha primeira lealdade. Todos os outros, relacionamentos, desejos, pensamentos e esperanças devem ser ordenados em torno dessa grande verdade e existem apenas em relação a ele.

Nos três anos desde que me comprometi a uma vida casta em obediência a Cristo, tenho comunicado sobre este assunto com dezenas, se não centenas, de homens e mulheres homossexuais, pessoas de todas as crenças e de nenhuma. Deus achou por bem usar um pouco do que eu escrevi para influenciar alguns a reexaminar seus pressupostos de fé, sexualidade e identidade. Alguns foram levados a mudar suas opiniões. Outros não. Fico impressionado com a forma como alguns rejeitaram a doutrina oficial da Igreja. Em vez disso, correndo o risco de ser excessivamente extenso, as objeções que enfrento tem sido de três tipos gerais.

Primeiro, em um argumento baseado em um celibato confuso e castidade, alguns promovem a ideia de que, enquanto alguns podem ser chamados para ser celibatários, a grande maioria das pessoas homossexuais não são destinadas a conter seus desejos sexuais por toda a vida.

O segundo é um argumento intimamente relacionado que pode ser resumido, a grosso modo, como "Deus me fez assim, então o que eu faço deve ser agradável a ele." Aqui também alguns levantam a objeção de que esperar que eles sacrifiquem a sexualidade genital é pedir-lhes para agir de forma "anti-natural".

E Finalmente, alguns dizem: "Deus é amor. O que eu faço com o meu amante tem o amor como foco. Portanto, Deus deve aprovar o que fazemos, ou pelo menos não desaprova, pois Deus é amor."

Eu tenho encontrado uma mistura destes argumentos desde quase o início, e eu acho que eles devem ser úteis para mostrar como eles devem ser respondidos. Pessoas que confundem castidade e celibato precisam ser lembradas do que a Igreja realmente ensina sobre os dois (parágrafos 2.348-2.350 do novo Catecismo são um recurso útil) e elas precisam ter essa distinção clara de uma maneira prática. Eles muitas vezes precisam ser lembrados de que as pessoas homossexuais não são os únicos que Deus chama à castidade ao longo da vida como leigos. Afinal, se um homem ou uma mulher heterossexual podem viver a castidade, por que uma vida casta seria impossível para um homem ou mulher homossexual?

Embora seja verdade que esta não é uma realidade que todos abracem de bom grado, não deixa de ser verdade que o mesmo chamado à  digna obediência que impede a atividade genital homossexual impede também a atividade genital heterossexual fora do casamento. A castidade não é uma questão de graça extraordinária, mas é um padrão mínimo para homens e mulheres cristãos, independentemente de sua orientação sexual.

Aqueles que argumentam que a homossexualidade é dada por Deus, precisam ser lembrados de fatos básicos. Pessoas homossexuais não são mencionadas na Bíblia de nenhuma maneira, e se Deus realmente criou todo um terceiro gênero de seres humanos, não deveria Ele ter dito algo sobre isso? Além disso, que algo existe não prova que ele existe como Deus o concebeu. Na verdade, a Escritura ensina o contrário.

Morte, doença e dor vêm não só sobre os seres humanos, mas sobre toda a criação por causa do pecado de Adão (Rom. 5:12, 8:20-23). Nós arcamos com esta criação decaída em nossos corpos e em nossas mentes, para dentro de nossos próprios genes evidenciando em doenças como a hemofilia e Tay-Sachs para que se acredite.

O fato de a maioria dos homossexuais não conseguir lembrar de ter escolhido ser homossexual não significa que Deus ama o sexo homossexual de forma alguma mais do que ele ama o adultério, a fornicação, ou idolatria. Orientação sexual pode não ser uma escolha. Ações quase sempre são.

A terceira linha de raciocínio pode ser melhor abordada provando o que se entende por "amor", tanto na mente das pessoas envolvidas no assunto e na mente de Cristo, bem como o Magistério da Igreja. Se alguém realmente ama outra pessoa, ele acompanharia essa pessoa em uma atividade que freqüentemente a causa danos? (Mesmo antes da chegada do HIV, doenças sexualmente transmissíveis em homens homossexuais ativos já era tema de preocupação epidemiológica). Se uma pessoa ama a outra, essa pessoa exigiria que a outra a servisse como um objeto sexual? Pode a homossexualidade sexualmente ativa ser mais do que isso, uma vez que nela não há outro objeto final além do prazer?

As pessoas modernas precisam ser lembradas de que Deus destinou um duplo propósito ao sexo, a união entre homem e mulher, assim como um caminho para a procriação dos filhos. Quando alguém remove completa e intencionalmente qualquer uma destas condições, o uso do sexo se deteriora no mal uso. 

Deixei o amor para o final, porque, no final, é sobre isto que este debate se refere. Há um velho ditado que diz que todas as melhores mentiras têm um elemento de verdade. Isto não poderia ser tão bem ilustrado quanto na discussão da homossexualidade. 

Os ativistas gays apelam para a opinião pública defendendo o seu "direito de amar quem eles escolherem." Ao fazer isto, ele contam com a compreensão confusa de amor que é tanto difundida agora, e na mentira de que todos os amores são iguais.

Mas enquanto eles ensinam a verdade na generalidade, há falsidade na especificidade deles. Por mais que os ativistas gays possam querer reivindicar que o amor gay imita o divino, não é simplesmente isso. O coração do amor divino é o desejo transcendente de perder a si mesmo para o bem do outro e, tanto a experiência da minha vida quanto a razão me ensinaram que uma vida ativamente homossexual impede esse desejo. O verdadeiro amor, o amor de Cristo, não se dobrará aos caprichos do encantamento erótico ou desejo. O amor verdadeiro conhece o controle.

Cristo nos disse, pouco antes de Ele nos mostrar, que não há amor maior do que dar a vida pelos nossos amigos (João 15:13). O maior amor é o Dele, o sacrifício perfeito de si mesmo para que outros possam se beneficiar. É esta a mais santa, mais difícil, mais casta forma de amor para a qual homens e mulheres homossexuais são chamados. Nós somos chamados, como o apóstolo Paulo, a derramar-nos para o bem do Reino, compartilhando com muitos os talentos e frutos que, se fôssemos heterossexualmente orientados, compartilharíamos principalmente com nossos filhos e cônjuge.

Eu não desejo escrever superficialmente sobre esta cruz particular. Se minhas palavras aqui não soarem sangrentas ou soarem impessoais, é só porque eu não quero me tornar o foco. A história da luta emocional e do sacrifício que vieram com este caminho é tão longa e suficientemente profunda que não pode ser dita aqui. Embora eu não tenha me estendido sobre os detalhes emocionais, os fiéis católicos precisam saber que existem devotos, homossexuais castos nas suas paróquias, ordens religiosas, e apostolados, e que muitos de nós vivem uma vida de sacrifício profundo por causa do Reino. A maioria de nós é silenciosa. Muitos de nós você nunca vai saber. Mas todos nós, necessitamos de suas orações, caridade e boa vontade.

Termino com duas citações relevantes para a identidade e discipulado. A primeira é de Evelyn Waugh, no “Brideshead Revisited”. Julia está explicando sua decisão de não se casar com sua amante, depois de seu caso e depois de se divorciarem de seus cônjuges originais. Suas palavras têm a ver com a escolha de servir a Deus ou algo a mais - uma escolha que cada um de nós enfrenta:

"Como eu posso dizer o que devo fazer? Você me conhece por inteiro. Você sabe que eu não sou alguém para uma vida melancólica. Eu sempre fui má. Provavelmente serei má novamente, punida novamente. Mas quanto pior eu for mais eu precisarei de Deus. Eu não posso me fechar à misericórdia Dele. E isto significaria; começar uma vida com você, sem Ele. Alguns podem só desejar ver um passo à frente. Mas eu vi hoje que havia uma coisa imperdoável... uma coisa má que eu estava a ponto de fazer, a qual eu ainda não sou má o suficiente para fazer, estabelecer uma boa rivalidade contra Deus.” 

A segunda é de Bonhoeffer, do “The Cost of Discipleship”

"E se nós atendermos o chamado para o discipulado, para onde isso vai nos levar? Que decisões e despedidas isto vai exigir? Para responder a esta pergunta, teremos de ir até Ele, pois só Ele sabe a resposta. Só Jesus Cristo, que nos convida a segui-lo, sabe o fim da jornada. Mas sabemos que será um caminho de infinita misericórdia. Discipulado significa alegria. "

Tradução: João Css.

Link do original em inglês

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