sábado, 4 de maio de 2013

A Distinção de Ato e Orientação da Homossexualidade e suas Causas


* Nota: Por se tratar de um texto não católico, está baseado em cima da "sola scriptura", rejeitando as riquezas do Magistério e a Tradição da Igreja Católica. Porém, como a essência do texto é AMS e Sagradas Escrituras, considero um texto rico nesse aspecto que vale a pena ser amplamente divulgado.

A Distinção de Ato e Orientação da Homossexualidade e suas Causas

Greg L. Bahnsen

Segundo um dogma popular moderno, não se pode entender que a Bíblia fala sobre o que hoje é
conhecido como homossexualismo, pois a Escritura não faz distinção entre o ato homossexual externo e a orientação homossexual interna. É precisamente esta última (a inversão sexual) que é tomada como genuína homossexualidade na corrente discussão. Além disso, a Bíblia não parece considerar o que causa a condição homossexual (inversão), e atualmente muitos veem significação ética em tais considerações. De acordo com essa teoria, a condição de inversão, com todos os seus problemas especiais, era desconhecida nos tempos bíblicos, e, portanto, os pronunciamentos da Escritura só devem aplicar-se a atos homossexuais (ou, dizem outros, à homossexualidade do tipo que se vê quando um heterossexual constitutivo perverte o que lhe é natural).

Estudos recentes sobre a homossexualidade instruem o moralista a ter em mente a distinção entre a atividade homossexual e a condição homossexual. Aquela pode ser uma conduta transitória, situacional ou traumática, e não necessariamente a expressão de uma genuína condição homossexual como uma orientação interna.

Por conseguinte, emitir juízo sobre a prática homossexual não é, com isso, dirigir-se à questão da propensão homossexual interior. Há diferença entre a conduta homossexual exterior e algum fator interior, variadamente chamado "predisposição, orientação, condição psíquica, constituição, propensão", etc. Este fator interno é descrito como uma atração preferencial pelo mesmo sexo, uma propensão emocional e físico-sexual para com outros do mesmo sexo, um desejo sexual dirigido para a gratificação com o mesmo sexo, o erotismo para com o mesmo sexo, um modo de pensar e de sentir, etc.

Porque esta condição psicológica era, como se alega, desconhecida no tempo da composição da Bíblia, tal inversão não era um assunto discutido pelos seus escritores. Contudo, a ciência moderna reconhece a existência da inversão, e o teólogo deve considerar seriamente o que agora se tem aprendido por meio da graça comum e, consequentemente, deve modificar as suas conclusões acerca da homossexualidade. Muitos homossexuais sofrem a inversão desde o início ou muito antes de entenderem o que está acontecendo com eles. Seja uma reação subconsciente, uma tendência involuntária da psique, ou um acidente do desenvolvimento pessoal, a orientação homossexual interna não é algo pelo que o indivíduo é moralmente responsável. Essa condição é moralmente neutra, o equivalente ético a nascer coxo ou vir a ter defeito acidentalmente. Os proponentes desse ponto de vista estão divididos sobre se esta inversão é doença ou não, e se os atos subsequentes a ela são igualmente culpáveis ou não.

Como avaliar esta distinção, na qual muitos escritores insistem? Talvez a resposta mais importante seja a seguinte: mesmo concedendo como válida a premissa de que a Bíblia nunca distingue entre inversão e atos homossexuais, a inferência pode ser justamente oposta à sugerida. O que nos é dito é que a condenação que a Bíblia faz do homossexualismo diz respeito somente a atos externos, visto que ela não isola nem discute a orientação interna. Contudo, deve-se deduzir a conclusão oposta. Se a Escritura não distingue entre orientação e ato, a distinção não é moralmente relevante. Sob a categoria de homossexualidade, deve-se entender que a Escritura condena tanto a orientação como o ato, pois na ética não há necessidade de distingui-los.

Além disso, não somente a sua inferência é questionável, mas também a premissa sobre a qual eles se apoiam está aberta a contestação. Eles alegam que a inversão como condição constitutiva ou como orientação psíquica não era reconhecida nos tempos bíblicos e que, portanto, o ensino da Bíblia sobre a homossexualidade é irrelevante à luz das descobertas recentes. A Bíblia simplesmente não diz nada sobre orientação sexual, que é o assunto da discussão moderna. Essa premissa é defeituosa em ao menos dois aspectos. 

Primeiro, parece suprimir o fato relevante de que, primariamente, o Autor da Escritura é o próprio Deus, que é onisciente e que, portanto, não tem necessidade nenhuma de que a sua verdade revelada na Escritura seja substituída ou restringida pela orientação psicológica moderna. Certamente Deus conhece a vida interior do homem e a verdade acerca da sua psique. O homem foi formado por Deus, e toda a vida do homem é vivida no ambiente do governo providencial de Deus sobre a natureza e a história. Mas permanece o fato de que Deus não distingue entre aspectos da homossexualidade aceitáveis e não aceitáveis na Escritura, e na Escritura acha-se tudo o que é suficiente para "o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra". [1] É preciso não esquecer que a lei de Deus e o ensino apostólico traçam diligentes distinções e restrições éticas, indicando circunstâncias suavizadoras que afetam o juízo deste ou daquele. Contudo, diversamente dos escritores pagãos que desculpavam ou criticavam o homossexualismo em diferentes circunstâncias, a Escritura não admite nenhuma escusa, mas o condena categoricamente. Se fosse de crucial importância para os nossos juízos morais que distinguíssemos entre inversão inocente e atos homossexuais culpáveis, certamente Deus saberia dessa distinção e a traria à luz em sua Palavra inspirada para nós. Sem dúvida nenhuma, a ciência moderna pode ajudar-nos a entender melhor o nosso mundo e, com isso, pode ajudar-nos a aplicar as normas de Deus à vida; todavia, a ciência não pode estabelecer normas éticas ou alterar as que nos foram dadas por Deus, o legislador. Não se deve entender a pesquisa científica moderna de modo que ignore a onisciência de Deus e a suficiência da Escritura.

Segundo, a premissa conforme a qual a Bíblia não trata da questão da orientação ou propensão sexual (inversão) é defeituosa de um modo mais direto. Sustentar que a Bíblia não reconhece disposições interiores, traços de caráter firmemente arraigados, e propensões herdadas é uma alegação que a leitura do texto não apoia. A Escritura ensina que todos os homens herdam uma natureza carnal depravada: um princípio de pecado opera em seus membros e os mantém cativos. [2] A natureza carnal produz fruto para morte, [3] e seus desejos são contra o Espírito, lutando para que os homens não consigam fazer o que deveriam fazer [4]. A carne dá surgimento a certas formas do mal [5], de modo que os homens cumprem os desejos da carne e da mente [6]. Será difícil entender esses ensinamentos se não se tem uma noção de alguma orientação interior e de alguma orientação herdada. A mesma coisa vale para a doutrina segundo a qual do coração procedem as fontes da vida; [7] a Bíblia retrata o coração do homem como obstinado, perverso, incircunciso, enganoso, duro, cego e obscurecido (variando um pouco os sinônimos de acordo com diversas versões [8]). Essas figuras demonstram que os escritores da Bíblia reconheciam uma depravação espiritual interior nos homens — uma inclinação contrária ao bem e uma propensão para o mal.

De acordo com a Palavra de Deus, a predisposição psicológica do homem é insensível [9] e contaminada; [10] em suas mentes, os homens são inimigos de Deus, e não podem ser outra coisa [11]. Portanto, não podemos negar que uma orientação interior, herdada, irresistível da psique do homem era reconhecida na Escritura, e que esta condição era vista precisamente como a fonte das atividades pecaminosas do homem. Os homens são arrastados por suas luxúrias e cobiças, e estas concebem e produzem pecado [12]. Como Jesus declarou, "Do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias"[13].

Há, pois, uma predisposição interior em todos os homens que inevitavelmente os inclina para o mal e que é a origem de todas as suas transgressões reais e concretas. Além disso, essa natureza geral depravada, comum a todos os homens, pode durar e desenvolver pecados particulares tendendo a formar um certo caráter. Referência a traços individuais internos ou a predisposições pessoais é evidente quando a Bíblia fala de homens aos quais falta domínio próprio, depressa se zangam, têm os pés rápidos para derramar sangue, são presunçosos e voluntariosos, têm os olhos cheios de adultério, que não param de pecar, são rudes e obstinados [14].

Consequentemente, eram prontamente acessíveis as noções pelas quais os escritores da Bíblia podiam fazer referência a uma propensão interior para o homossexualismo; não se pode evitar ou negar a habilidade com que a Escritura fala de inversão de algum modo, embora não com o vocabulário específico da ciência recente. Se uma alegada predisposição interior para o homossexualismo fosse relevante para deduzir distinções morais e para fazer juízos morais, a Bíblia não teria sido completamente sem habilidade para indicar tal coisa. Além disso, o fato é que a Palavra revelada de Deus condena o desejo homossexual propriamente dito, vendo-o como tão pecaminoso como os atos homossexuais.

Afirmar que uma pessoa não peca por ter sentimentos homossexuais ou por sentir atração pelo homossexualismo, ou por ter orientação erótica homossexual, é passar por alto o claro ensino da Bíblia de que não só são maus ou pecaminosos os atos imorais, mas também é mau ou pecaminoso o desejo de praticar atos imorais: por exemplo, imaginar planos iníquos ou maus contra o próximo, [15] ceder à ira que leva à violência, [16] malícia ou maldade, [17] desonestidade invejosa, [18] fraude planejada, [19] juramentos falsos de amor ou de amizade, [20] cobiça [21]. A Palavra de Deus proíbe atividades pecaminosas, mas igualmente proíbe cobiças carnais e maus desejos [22]. A passagem clássica quanto a este assunto é Mateus 5.27-29, onde Jesus declara que todo aquele que olhar para uma mulher cobiçando-a, já cometeu adultério em seu coração. Contudo, a cobiça homossexual é ainda pior; enquanto que os impulsos heterossexuais são dados por Deus, promovem o mandato cultural, e são cumpridos dentro do casamento [23], o homossexualismo é sempre imoral em qualquer contexto. O desejo heterossexual é mau em seu mau uso (fora do casamento), ao passo que o desejo homossexual é mau em si (uma perversão). Em Romanos 1 Paulo não restringe a sua censura a práticas homossexuais abertas ou "atos indecentes". Sua condenação estende-se especificamente aos homossexuais que "se inflamaram de paixão uns pelos outros"[24]. Eles são censurados por "se entregarem à impureza sexual," [25] ou por terem "paixões vergonhosas"[26].

Portanto, é evidentemente incorreto afirmar que a Escritura só fala de atos homossexuais, e não do desejo e inclinação homossexual. Com linguagem franca, Paulo afirma que os homens e as mulheres são moralmente responsáveis e estão sob a ira de Deus por se inflamarem com desejos homossexuais, que ele descreve eticamente como afetos vis. Então, a distinção ato/orientação não faz nada para abrandar a censura que a Bíblia faz ao homossexualismo. Não podemos concordar com aqueles que afirmam que a Escritura nada sabe sobre inversão sexual, nem com seu julgamento sem base de que a disposição homossexual é moralmente neutra. 

Pois bem, em resposta às considerações supra, um rijo defensor da tese de que o homossexual tem uma orientação psicológica involuntária que a Bíblia desconhece e pela qual ele não é moralmente responsável, poderia contestar alegando que esta condição não pode ser identificada com os desejos condenados na Bíblia. Pode-se sustentar que o que é entendido como "inversão" atualmente não pode ser identificado simplesmente com afetos e desejos homossexuais, mas que é, antes, uma disposição psicológica interior que está por trás daqueles desejos (e atos, inevitavelmente), e os produz. A contestação seria que se deve admitir um terceiro fator na presente discussão, uma orientação psicológica que vem em acréscimo às paixões homossexuais e a práticas homossexuais externas. E é esse terceiro fator que alguns defendem como moralmente neutro. A predisposição para atrações e conduta homossexuais não é algo pelo que o indivíduo pode ser considerado responsável em discussões éticas. 

Que é que se deve fazer com tal tese? Num contexto teológico, isso pode significar que a natureza depravada com a qual os homens nascem é, para alguns indivíduos, especificamente orientada para a perversão pecaminosa do homossexualismo. Contudo, a Escritura não apoia a ideia de que cada pessoa recebe uma natureza pecaminosa com uma propensão para particulares transgressões da vontade de Deus. Todo homem herda uma depravação geral do coração, uma inclinação fundamental contrária ao bem, uma direção dominantemente errada, que afeta todos os aspectos da sua pessoa sem discriminar ênfases; há uma extensa e geral corrupção operando em tudo o que ele faz. Não obstante, as maneiras pelas quais os pecadores individuais desenvolvem suas naturezas depravadas, os pecados particulares que eles focalizam e em torno dos quais os seus caracteres são formados, diferem de pessoa a pessoa. Assim é que cada um nasce com uma natureza sexual depravada (isto é, com uma predisposição pecaminosa que se expressa na área do sexo, como em todas as outras); mas os indivíduos expressam isso de várias maneiras, seja a cobiça, o voyeurismo, o adultério, os namoros, o exibicionismo, o estupro, a frigidez, as relações com animais, a sodomia, etc. Ninguém é inerentemente imune a qualquer desses pecados, e ninguém é especificamente impelido a algum deles com base em algum caráter ou forma daquele pecado original que ele herda individualmente. Essa ideia é estranha à doutrina bíblica sobre o homem. Contudo, se houvesse algum modo de mostrar que essa ideia tem suporte bíblico, esse fato, em si, não levaria à conclusão de que o indivíduo que tem uma propensão pecaminosa distinta (digamos, para o homossexualismo) em sua natureza pecaminosa herdada é um tanto menos responsável pessoalmente pelos desejos e atos correspondentes do que por outros desejos e atos pecaminosos. Os adeptos do conceito em questão têm que mostrar suporte bíblico para a ideia de que o indivíduo não pode ser considerado especificamente responsável por aqueles pecados particulares que estão arraigados em sua natureza depravada. Visto que cada um deve reconhecer que o pecado original (seja como for que a pessoa veja as suas características e a sua maneira de funcionar) é de caráter pecaminoso e é algo pelo que seus herdeiros são considerados pessoalmente culpáveis [27], a noção de que os homens não são especificamente responsáveis por seus pecados arraigados só pode significar um abrandamento da culpa resultante dos desejos e da conduta que procedem desta sua propensão depravada. Mas a Palavra de Deus nunca oferece tal abrandamento da culpa por nossas cobiças e práticas, e, portanto, a presente teoria não contribui em nada para a avaliação ética do homossexualismo. 

A versão secular da teoria segundo a qual a orientação homossexual está por trás, tanto do desejo como da ação, assevera que algo interno em certos homens determina suas atrações e ações homossexuais. Este "algo" é rotulado como "uma condição psíquica, ou uma disposição psicológica, ou uma orientação físico-sexual, ou uma predisposição constitutiva". Os proponentes desta ideia frequentemente insistem em que distingamos entre esta orientação e os atos abertos de homossexualismo. É, portanto, próprio pedir a estes proponentes que tracem a distinção — isto é, que caracterizem ou descrevam precisamente o que é de fato este terceiro fator que eles querem que seja conceptualmente isolado e reconhecido. Se a distinção é deveras tão importante, alguém deveria, então, distinguir a orientação subjacente para nós. Mas é precisamente aí que os proponentes da ideia secular passam a ser concisos, só apresentando esboços em suas discussões. É como se eles esperassem que, de algum modo, os leitores possam automaticamente identificar, entender e usar a misteriosa noção de uma "disposição psicológica subjacente". Exatamente o que se supõe que essa disposição é? Naturalmente, estes fisicistas ou materialistas que propõem esta teoria tem particular dificuldade em analisar disposições psicológicas em geral. Mesmo independentemente disso, sérias perguntas permanecem. Pode uma disposição psicológica ser identificada à parte de suas manifestações? Pode ela ser analisada à parte da necessária referência a desejos e atos? Será este um novo modo de se resumir os conceitos de desejos e atos homossexuais, tentando ainda atribuir alguma realidade substancial a esta expressão? 

Uma possível explicação das disposições é que são propriedades condicionais: por exemplo, ter uma disposição homossexual significa que, se certas circunstâncias surgirem, então a pessoa manifestará desejos e/ou práticas homossexuais. Mas então tais propriedades não são causas, de modo nenhum, e não podem ser identificadas isoladamente das manifestações fatuais da conduta. Nesse caso, o conceito de disposições vem a ser inútil como recurso explicativo, e a identificação de uma "disposição" envolverá um raciocínio circular. 

Outra explicação das disposições é que são realmente propriedades de algum estado definido — análogo às qualidades estruturais ou materiais de alguma coisa — que é responsável pela pessoa que manifesta certa conduta. Visto que esta teoria reduz o que a pessoa pode ser ou fazer ao que ela é ou faz, era de esperar que o caráter da disposição se manifestasse o tempo todo. Isso é completamente contrário aos fatos acerca dos homossexuais. Ninguém que sustenta esta teoria quer sugerir que os homossexuais estão sempre tendo tais desejos e envolvimentos. Uma explicação adicional da disposição na história da filosofia funda-se numa impopular metafísica da potencialidade aristotélica, na qual as propriedades ou predicados dispositivos não subsistiriam pela lei da lógica do meio excluído (por exemplo, S. está potencialmente tendo desejo homossexual e potencialmente não está tendo tal desejo), e é uma teoria extremamente obscura.

Já foi dito o suficiente para ilustrar o ponto: a análise disposicional é, para começar, uma questão obscura na filosofia. Se os psicólogos que falam da "disposição homossexual" não se referem em nada a uma propriedade condicional ou real e concreta (com os problemas associados mencionados acima), a que exatamente eles se referem? Que é que eles querem distinguir para nós? Além disso, o que é que alegadamente tem essa disposição? Ordinariamente pensaríamos que a pessoa tem a disposição, mas os proponentes da presente ideia frequentemente falam como se a disposição fosse atribuível a algum elemento da pessoa. Essa ambiguidade permite indesejáveis variantes quanto à referência entre algum fator causal dentro da pessoa, uma orientação, e uma caracterização da pessoa propriamente dita. Mas uma referência à orientação deve ser entendida como uma taquigrafia metafórica, ou terá que ser especificada mais exatamente. É uma coisa física ou localizável que se considera constituída ou orientada numa direção particular? Se não é isso, que é? Finalmente, se se diz que tais pessoas têm uma disposição para manifestar desejos e atos homossexuais, também se pode dizer que elas têm uma disposição para ter essa disposição? Para falar em termos básicos, como se pode distinguir as disposições umas das outras, e como disposições distintas se relacionam umas com as outras? 

O ponto relevante da crítica acima é simplesmente este: se a distinção entre orientação e atos homossexuais não é uma distinção entre desejos e atos homossexuais abertos, então aqueles que insistem na distinção devem estar pensando num terceiro fator independente de desejos e atos — uma pretensa disposição psicológica. Contudo, aqueles que tão estrenuamente insistem em que se deve distinguir esta disposição, não a distinguiram nem a definiram claramente para nós. E, enquanto não o fizerem, nada se pode fazer de sua alegação de que ela é moralmente neutra. Além disso, esse terceiro fator, à parte dos desejos e atos homossexuais, é realmente inconsequente para a ética, em vista do fato de que, sejam quais forem os fatores ocultos, operativos ou não, a Escritura sustenta que o homossexual é plenamente responsável por seus desejos ("cobiças impuras") como também por suas atividades abertas ("atos indecentes"). Se mais uma faceta da síndrome homossexual fosse esclarecida conceptualmente e comprovada empiricamente, ainda assim o cristão concluiria que sua natureza não pode cancelar a culpabilidade, pois o ensino da infalível Palavra de Deus impede que se deduza tal inferência. Assim, a existência da alegada propensão estaria fora do objetivo visado eticamente. 

Passemos agora a recapitular os principais pontos da nossa réplica à alegação de que não há distinção, extraída da Escritura, entre atos homossexuais abertos e orientação homossexual interna (o que era desconhecido na época) e de que a sua condenação deve restringir-se a práticas homossexuais (e não a propensões). Primeiro, mesmo que a premissa fosse exata, a inferência tirada não seria legítima; ao contrário, concluiríamos que a Bíblia fala tanto em ato como em orientação, já que ela não qualifica os seus pronunciamentos, desculpando e pondo algum aspecto do homossexualismo fora da sua condenação. Segundo, a premissa propriamente dita é entendida de um modo que entra em conflito com outras verdades teológicas, tais como a onisciência do autor originário da Bíblia e a suficiência da Escritura para todo juízo pertinente aos padrões da justiça. Terceiro, a premissa é simplesmente errônea: estavam disponíveis as metáforas comuns e as noções do senso comum pelas quais a Escritura poderia ter feito referência a uma disposição homossexual (entendida como uma cobiça interior característica), e de fato e de verdade vemos que a Palavra de Deus censura explicitamente desejos e hábitos homossexuais.

Finalmente, a tentativa de isolar a disposição como um terceiro tipo de entidade, diferente (independente de desejos e atos homossexuais) — tanto em suas versões teológicas como seculares — falha em não demonstrar sua existência distintiva e sua relevância moral. 

Isso nos leva à questão sobre o que causa o homossexualismo. Diferenças de opinião têm florescido neste ponto, e as "autoridades" têm estado em conflito. O homossexualismo tem sido atribuído a uma ampla gama de fatores, dos biológicos (como por exemplo, a construção corporal da pessoa) a psicossociais (por exemplo, a regressão oral). O único fato geral que se pode reconhecer é que há uma total ausência de acordo científico acerca da causa e incidência do homossexualismo. Muitas ideias que têm sido propostas acabaram se evidenciando como especulação não comprovada — geralmente com implicações contrárias à Escritura. Apesar de que vamos dar alguma atenção ao debate sobre a causa do homossexualismo, na longa caminhada ainda vamos perguntar que diferença isso faz em termos da moralidade. Ainda que pudéssemos identificar com segurança a causa (ou as causas) do homossexualismo, ainda teríamos que confrontar a questão ética da sua aceitabilidade.

Os dois tipos básicos de causas popularmente apresentados atualmente para explicar o homossexualismo são de natureza congênita e psicogênica. O homossexual nasce desse jeito, ou aprende a ser desse jeito? Por muito tempo a primeira explicação foi o dogma central da posição permissivista quanto ao homossexualismo, que alegava que o desequilíbrio glandular ou algum outro fator biológico era responsável pelas reações do homossexual. Por conseguinte, ele deve ser tolerado, como se tolera algum outro que nasce com certas condições que escapam a seu controle. Alguns teólogos, firmados em tais teorias, argumentaram no sentido de que o homossexualismo foi uma parte da criação ou o resultado da criação propriamente dita, e assim é natural, e é fútil fazer-lhe oposição. Contudo, visto que esta teoria sugere que a homossexualidade é uma anormalidade física ou alguma forma de doença, ela perdeu popularidade recentemente, no meio das tentativas públicas de retratar a condição homossexual como normal e digna.

Nesse meio tempo, as teorias que trabalham com causas de natureza congênita perderam quase todas as aparências de credibilidade científica. Testes empíricos falharam completamente em suas tentativas de confirmar um modelo de correlação entre níveis hormonais e preferências homossexuais/heterossexuais; quando os homossexuais masculinos eram tratados com estrogênio, via-se diminuir a atividade homossexual — mas o impulso heterossexual também se reduzia. Tentativas de redirecionar a homossexualidade masculina por meio de injeções de hormônio sexual masculino resultaram simplesmente em fortalecer o desejo homossexual. Experiências hormonais não influíram na orientação sexual.

Outra conjetura altamente divulgada foi que a homossexualidade é uma condição hereditária, mas o trabalho feito por recentes geneticistas refutou esmagadoramente essa ideia. Não somente a ideia de que a homossexualidade é uma anomalia ligada aos cromossomos foram derrotadas, como também foram derrotados muitos alegados métodos "científicos" já utilizados para apoiar essa ideia. Técnicas desenvolvidas para examinar todos os cromossomos de uma célula em conexão com estudos sexocromáticos não encontraram nenhuma anormalidade relacionada com a homossexualidade. Pesquisa feita por sexologistas descobriu que em estudos sobre identidade de gênero, hermafroditas não genéticos são tão livres do homossexualismo como indivíduos que sofrem de desordens cromossômicas, envolvendo ausência em pessoas do sexo feminino ou acréscimo em pessoas do sexo masculino do cromossomo X, feminilizante (síndrome de Turner e síndrome de Klinefelter, respectivamente). Esta prova demonstrou definitivamente que a homossexualidade é condição resultante de desenvolvimento, não de natureza constitutiva.

Ocorre, ademais, que a pesquisa neuro-endocrinológica partiu de simples fórmulas e ideias de programação mecânica para qualquer condição de conduta, o homossexualismo inclusive. Os genes e os circuitos neuro-endócrinos são apenas uma parte do sistema de conduta de uma criatura, e essa porção é cada vez menor nas espécies mais altas, chegando a um nível mínimo quanto aos seres humanos, para quem a adaptação e os complexos procedimentos de aprendizagem assumem imensa significação explicativa. Conceitos biologicamente arraigados sobre estado "latente" têm sido reconhecidos como cometendo petição de princípio ao "explicar" tudo (tanto a ausência como a presença de manifestações homossexuais), enquanto nada esclarece e lhe falta valor operacional na ciência rigorosa.

Finalmente, o último recurso da teoria da normalidade biológica da homossexualidade foi removido pelos estudos etológicos mais avançados, que mostraram que a homossexualidade é unicamente humana. Durante anos era popular pensar que muitos animais se envolvem em práticas homossexuais, mas recentemente viu-se que a prova para essa ideia fundava-se em observações defeituosas sobre falsas interpretações antropomórficas, sobre confusões com rituais de animais heterossexuais e tentativas de identificar um parceiro sexual, ou sobre um truncado ou especial uso do termo "homossexual". O fato é que nenhum mamífero, em seu estado natural, procura e prefere gratificação sexual do mesmo sexo (copulação, orgasmo) [28]. Isto se vê unicamente entre homossexuais humanos. Por isso, entre muitos cientistas contemporâneos a teoria de que a homossexualidade é uma condição biológica (congênita, hereditária ou constitutiva) é considerada uma teoria sem suporte, uma conjetura demolida por rigorosa prova empírica.

Passamos agora às teorias psicogênicas da homossexualidade. Mas, primeiro, façamos uma pausa para considerar o ciclo de acontecimentos deste século relativos à polêmica sobre homossexualidade. No primeiro século Paulo ensinava que o homossexualismo era uma preferência pecaminosa. Por isso o apóstolo de Cristo era visto como um fanático ignorante no princípio do século vinte. Nessa época os psicólogos diziam que a homossexualidade era um mau ajustamento involuntário e, por isso, fora da responsabilidade moral. Defensores modernos do homossexualismo querem um pouco dessas duas maneiras de ver. Agora eles querem concordar com Paulo em que o homossexualismo é um padrão de desejo e conduta escolhido, mas também querem estar do lado dos psicólogos anteriores em que o homossexualismo está além da censura moral objetiva. Dessa forma, o homossexualismo não seria visto nem como uma aflição involuntária nem como uma opção moral. Em vez disso, é apresentado como uma preferência inocente. Essa proposta híbrida sugere que a discussão sobre a homossexualidade pode agora ser levada adiante simplesmente numa estruturação ética, sem muita preocupação com suas causas. Contudo, muito embora as teorias psicogênicas estejam se tornando impopulares ou utilizadas somente seletivamente, ainda assim devemos considerá-Ias com base em seus próprios méritos.

Entre os adeptos das teorias psicogênicas, vê-se uma ênfase à interação psicológica (reações subconscientes) e ambiental. Alguns veem o homossexualismo como uma condição psicopática, quer enfatizando o componente constitutivo quer salientando o componente experimental. A dificuldade com os primeiros já foi discutida. O componente experimental pertence ao distúrbio emocional que se desenvolve dentro do homossexual quando ele tenta ajustar-se a suas várias situações e pressões sociais. A dificuldade em aceitar as opiniões dos psiquiatras que veem o homossexualismo como esse distúrbio emocional é que eles só tendem a ter contato com os indivíduos que padecem conflito de personalidade e desordens neuróticas, e não com a maioria de homossexuais "ocultos" que aprenderam a alinhar-se às necessidades sociais e pessoais. Além disso, se a síndrome homossexual é entendida como neurose ou psicose, ela representa uma reação individual à sua sociedade e vice-versa; e acaba acontecendo que os próprios traços que tais psicólogos associam ao homossexualismo são também os problemas emocionais de indivíduos que se identificam com uma minoria perseguida numa sociedade. Quer dizer, é questionável se os psicólogos que veem o homossexualismo como um distúrbio emocional têm tratado particularmente da orientação para o mesmo sexo ou, antes, com a reação da pessoa a uma dura atitude da sociedade (neste caso, para com o homossexualismo).

A prática e a teoria de muitas escolas de psicologia acarretam suposições questionáveis, tais como a força moral de noções "subconscientes", o entendimento do homem que é utilizado, as pressuposições morais e avaliativas que são aplicadas, a ideia de que a psicanálise leva o paciente a reconhecer as suas crenças operativas, em vez de levá-lo a novas crenças acerca de si próprio, etc.

Ademais, as teorias do aprendizado psicossocial frequentemente operam com não claras, senão confusas, noções sobre vontade e escolha. Não é nenhuma surpresa, então, que o campo está desesperadamente dividido hoje com respeito à questão da homossexualidade. Qualquer pessoa esperaria em vão, se esperasse receber alguma teoria bem alicerçada acerca das causas da homossexualidade oriunda da psicologia moderna. Os psicólogos divergem fortemente sobre questões quanto a se a homossexualidade é anormal, se é uma doença, se é reversível, ou se é prejudicial a si mesma tornar-se bem ajustada. Assim, aqueles que argumentam que a homossexualidade é constitutiva ou determinada por forças psicológicas complexas e intrincadas podem legitimamente ser interrogados: exatamente onde está a prova de que é mesmo assim?

Existem muitas teorias conflitantes, mas cada uma delas não passa de pouco mais do que especulação. A pessoa alegar que "aprendeu das ciências" que a homossexualidade é frequentemente uma condição profundamente arraigada nas aberrações psicológicas pelas quais o indivíduo não pode ser considerado responsável, é sinal de mínima familiaridade com o estudo da psicologia moderna, ou é uma doida bravata. Além disso, deve-se reconhecer na corrente discussão que a psicologia moderna, na maior parte, está interessada em como lidar com a homossexualidade, não especificamente no que ela é e por que existe.

Voltando a atenção para o lado social das teorias psicogênicas sobre as causas da homossexualidade, podemos notar primeiro a recente obra realizada por estudos interdisciplinares fazendo uso da pesquisa feita por etólogos sobre as expressões de dominação-submissão (dependência) de animais e homens. Alguns escritores acham que percepções conseguidas aqui explicariam o cerne psicodinâmico da homossexualidade, visto que a condição homossexual pode ser extensamente correlacionada com atitudes sociais e interpessoais próprias de agressão, competição, dominação, humilhação, insegurança, dependência, submissão. Embora os estudos nesta área frequentemente sejam muito imaginativos (e causam a suspeita de que esquemas explicativos subjetivos ou arbitrários são impostos aos dados), permanece o fato de que até a obra mais confiável neste assunto é, na melhor hipótese, uma discussão de fatores concomitantes e contributivos que levam à condição homossexual. Eruditos de alto nível não argumentam que estão estabelecendo a chave única para a homossexualidade, nem que estão aduzindo algo à sua causa, mas que somente estão discernindo conexões com relações e expressões interpessoais.

Outra tradição popular explica a homossexualidade em termos do ambiente social da família. Sugere-se que os fatores presentes na relação do indivíduo homossexual, homem ou mulher, com seus pais na primeira infância levaram à posterior inversão sexual. Quanto ao menino, isto significaria um pai ausente ou desligado, ou um pai frequentemente hostil à criança, ou que o diminuía em importantes aspectos, e/ou uma mãe dominante (muitas vezes frígida para com seu marido ou para com outros homens), que tendia a ser exageradamente íntima com a criança e a envolvia em alianças com ela contra o pai. Embora essa teoria seja popular atualmente, e mesmo fomentada por alguns escritores cristãos, só pode ser vista como discutindo um possível fator contributivo, e não como uma causa da homossexualidade. Quanto à sua metodologia, pode-se questionar se essa explicação diz mesmo algo distintivo sobre a homossexualidade. Há demasiados homossexuais que têm pais fortes e amorosos e mães não dominantes, e demasiados heterossexuais que têm ambientes familiares extremamente mal ajustados, para que nos sintamos movidos a pensar que se pode ver alguma correlação entre homossexualidade e relações familiares na infância dos homossexuais.

Acresce que alguns profissionais têm levantado a notável questão sobre se a homossexualidade de uma pessoa é o efeito ou a causa de algo que posteriormente é visto como a atmosfera paternal desfavorável. Não poderia o pai cujo filho que por outras razões tendia para o homossexualismo tornar-se desligado em reação a um filho que ele não entende? A declaração, «A homossexualidade começa no lar" deve ser vista como uma trivialidade perigosa e ambígua, mesmo quando empregada por escritores cristãos; certamente ela não tem o suporte de prova específica e sólida Além disso, os defensores dessa posição geralmente são menos que claros quanto à questão sobre se o homossexual (ou seus pais) é ou não responsável por sua conduta e por sua reação. Por exemplo, alguns que atribuem a homossexualidade ao ambiente familiar têm dito que a sociedade não tem o direito de condenar o indivíduo que sofre por escolhas impróprias resultantes em homossexualismo; todavia, o indivíduo, de acordo com os mesmos autores, é responsável por aprender novos modelos de reação e por reconhecer a pecaminosidade dos seus modelos passados. Um aspecto desta perspectiva estabelece o que outro aspecto obstruiu.

Devemos concluir que as teorias psicogênicas sobre a homossexualidade não são mais conclusivas ou persuasivas do que as teorias congênitas. Não há nem apoio escriturístico nem sólida evidência médica de que a homossexualidade é uma condição constitutiva, involuntária ou irreversível. A responsabilidade moral pelo homossexualismo não foi dissolvida por meio de estudo científico [29]. Contrariamente a uma polêmica amplamente divulgada, as ciências naturais e humanas não têm produzido nenhum acordo ou nenhum veredito individualmente consubstanciado sobre a causa da homossexualidade.

Talvez no futuro consigam isso. Mas, consigam-no ou não, o cristão manterá em mente certas verdades escriturísticas. Com referência às teorias congênitas, é preciso não esquecer que a Palavra de Deus ensina que a homossexualidade, absolutamente, não é "natural" Seja como for que tais ou quais fatores a influenciem, a homossexualidade não pode ser vista como biologicamente inata. É artificial e aprendida contra o que o homem é pela obra criadora de Deus. Mesmo num mundo caído, com todas as suas distorções e misérias, Paulo classificou a homossexualidade como "contra a natureza" — como "imprópria", um "erro", um modo de viver e de usar o corpo humano fundamentalmente mau. Com referência às teorias psicogênicas, podemos reconhecer que, na base, elas fazem da homossexualidade alguma forma de conduta aprendida, uma questão de reações da pessoa a influências sociais, ambiente, treinamento, ou exposição. Isso poderá ajudar ou não, algum dia, a ver quais influências contribuem singularmente para reações homossexuais, mas permanece o fato de que tal conduta aprendida pode ser desaprendida e alterada.

As reações pessoais são cruciais para as explicações psicogênicas da homossexualidade, e a Escritura sempre sustenta que os homens são responsáveis pela maneira como reagem às suas circunstancias. Nenhuma circunstância torna alguém inevitavelmente pecaminoso em suas reações, pois sempre há um meio de escapar e agradar a Deus. [30] Todo pecado pode ser visto como tendo causas de um tipo ou de outro; nenhuma transgressão vem "arbitrariamente do nada". Contudo, estas várias causas, sejam quais forem em casos individuais, de maneira nenhuma removem a culpabilidade da pessoa diante de Deus. A origem de todo pecado é finalmente atribuída por Deus aos nossos corações. [31] Sejam quais forem as circunstâncias externas e internas, ninguém pode ser escusado por suas reações, se transgridem a vontade de Deus revelada.

Paulo ensina que mesmo a cobiça homossexual interior é pecado [32], e, portanto, em aspectos relevantes, o homossexual, em sua cobiça, está envolvido voluntária e conscientemente — não como uma orientação involuntária, enraizada, inevitável. Como é pecaminoso, o desejo homossexual é algo pelo que os homens são declarados responsáveis por Deus. Tal desejo pode começar de várias maneiras e sob uma variedade de influências, mas no fim é, não obstante, uma conduta aprendida que o Senhor detesta. O prazer do homossexual em sua perversão, e sua recomendação a outros [33], indicam quão voluntária é sua participação nela. Seus atos e desejos homossexuais não são mais determinados do que a cobiça e o adultério de outro homem heterossexual. É uma racionalização inaceitável alguém pleitear em sua defesa: "Sou um adúltero constitutivo, minha imaginação lasciva é involuntária, e é preciso que os meus maus atos sejam escusados".

A Escritura nos ensina que as nossas inclinações físicas devem ser subordinadas à direção moral de Deus, e não utilizadas como uma escusa para transgredi-la. E, portanto, o homossexual deve canalizar os seus impulsos sexuais na direção certa e exercê-los, mental e fisicamente, sob os limites estabelecidos pela vontade de Deus; quanto à sua condição pecaminosa e pervertida, ele precisa assumir a atitude bíblica de arrependimento, [34] resistência [35] e redirecionamento [36]. A bissexualidade comum entre os homossexuais (como também a livre adaptação de heterossexuais à homossexualidade em certas circunstâncias, por exemplo, prisões) e resultados reais de aconselhamento pastoral apropriado, demonstram que o homossexualismo não é uma fixação irreversível. É uma orientação voluntária e um modo de viver adaptado que podem ser mudados.

Naturalmente, a homossexualidade pode não ser uma escolha consciente e recordável, mais do que acontece com a heterossexualidade. Pode não ter havido um processo de deliberação explícita, sopesando as opções e chegando a uma decisão neste ou naquele caso. Mas isso não faz da homossexualidade nem da heterossexualidade menos escolhidas, no sentido de uma preferência pessoal, espontânea e voluntária. A ocasional defesa homossexual, "Eu não consigo impedi-lo", é inaceitável à luz da Palavra de Deus. O homossexualismo não é uma cruz recebida desde o nascimento, mas um padrão de conduta que deve ser lançado fora com o velho homem e suas luxúrias e cobiças. Qualquer discussão cristã sobre ato/orientação ou sobre a causa do homossexualismo que sugira que o desejo interior é involuntário e talvez irreversivelmente determinado, e, portanto, imune à responsabilidade, é contrária à descrição escriturística. E mais: qualquer discussão que vá adiante e diga que, apesar de a sua inversão ser inevitável e estar permanentemente fixa em sua disposição, não obstante, qualquer expressão externa de sua homossexualidade em atos abertos é pecaminosa e condenada, faz jogo duplo, pois salta o muro moral e é cruel para com o pecador. A Palavra de Deus retrata os atos e os desejos homossexuais como voluntários, culpáveis e passíveis de serem renunciados mediante o poder de Deus. Discussões tais como as que têm sido mencionadas aqui não oferecem ao homossexual nenhuma redenção e nenhum alívio, mas reforçam a pressão ou são uma frustração.

É muitíssimo importante o fato de que os desejos e os atos homossexuais são pecados voluntários pelos quais a pessoa é moralmente responsável, se é que há alguma esperança na perspectiva cristã para o homossexualismo. Quando a responsabilidade pelo homossexualismo é removida, a esperança para a homossexualidade também é destruída. Os autores que apresentam a homossexualidade como uma dominação interior imutável exercida por aqueles impulsos ou desejos, condenam o pecador ao desespero. E esse desespero é desnecessário, injustificável e infiel à Escritura. Uma vez que o homossexualismo é pecado, há esperança garantida divinamente para a sua reversão. Cristo veio para morrer por pecadores e para libertá-los, mediante seu Espírito, dos seus pecados. Não somente a culpa é removida; também a nossa corrupção moral está sendo eliminada e corrigida.

Os que vêm a Cristo não são mais escravos do pecado e não precisam obedecer mais a suas luxúrias e cobiças. No poder da ressurreição do Salvador, efetuado pelo Espírito Santo, o pecado deixa de ter domínio sobre os crentes [37]. Eles agora são escravos da justiça, resultando na santificação do coração, da mente e do comportamento corporal. Visto que o homossexual o é por vontade própria, e não por necessidade constitutiva, ele pode ser mudado e reformar sua vida. Depois de listar o homossexualismo entre os pecados que excluem esta ou aquela pessoa do reino de Deus, Paulo diz: "Assim foram alguns de vocês" - mas agora eles foram lavados, santificados e justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de Deus [38]. Portanto, sobre bases inspiradas e infalíveis, o cristão pode dizer que é possível renunciar ao homossexualismo e deixá-lo para trás; isso pode acontecer - no nome de Cristo e no poder do Espírito Santo. O que parece totalmente impossível aos homens é possível com Deus. Além disso, o Senhor Deus santifica totalmente os homens, tanto em seus desejos como em sua conduta [39].

Em resumo, eruditos de tendência naturalista estão em conflito sobre a anormalidade interior, a causa e a cura do homossexual. Na corrente discussão, respostas divergentes são guiadas pelas pressuposições particulares de cada erudito (por exemplo, seu conceito sobre o homem, seu critério de normalidade, o que ele considera seguro esperar). Também com relação ao cristão isso é verdade. Ele tem pressuposições distintas derivadas da Palavra de Deus revelada. Estas são a base e o guia para o seu conceito de homossexualidade. Com relação à natureza do homem, o cristão o vê como uma criatura de Deus, dada sua definição e direção pelo Criador, e, por conseguinte, sempre tendo que prestar contas ao Senhor pelo uso da mente e do corpo. Com relação a certo critério, o cristão está firmemente comprometido com os padrões éticos da Palavra de Deus, e, com isso, ele vê os desejos e atos homossexuais como rebelião contra a vontade de Deus. Com relação à esperança, o cristão vê a graça e o poder de Deus como capazes de mudar pecadores e de livrar os homossexuais da culpa e do poder da sua perversão voluntária. Estas pressuposições, contra as que são fomentadas fora do compromisso com a Palavra de Deus, estabelecem as questões pertinentes à anormalidade, à causa e à cura da homossexualidade para o cristão.

Referências:
[1] 2Tm 3.16,17.
[2] Rm 7.23. 
[3] Rm 7.05.
[4] Gl 5.17.
[5] Gl 5.19.
[6] Ef 2.03.
[7] Pv 4.23.
[8] Dt 10.16; Pv 17.20; Jr.9.26; 17.09; Os 10.02; Mt 19.08; Ef 4.18.
[9] Ef 4.19
[10] Tt 1.15 (Almeida, Revista e Corrigida).
[11] Rm 8.07; Cl 121.
[12] Tg 1.14,15.
[13] Mt 15,19.
[14] 2Tm 3.03; Pv 14.17; 16.32; Rm 3.15; Is 59.7; 2Pe 2.10, 14; Ez 2.4.
[15] Pv 6.16-18; Zc 7.10; 8.17.
[16] Gn 4.7,8; Mt 5.21,22.
[17] Ef 4.31.
[18] Sl 37.17.
[19] Am 8.05.
[20] Zc 8.17.
[21] Êx 20.17.
[22] Rm 13.14; Cl 3.05; 1Pe 2.11.
[23] 1Co 7. 2-5; Pv 5.18,19; Ct 7.1ss.; Hb 13.04.
[24] Rm 1.27
[25] Rm 1.24, onde a palavra akatharsia literalmente diz respeito a refugo ou algo repugnante.
[26] Rm 1.26.
[27] Rm 5.12, 15-19.
[28] Contudo, mesmo que o homossexualismo fosse normal entre os animais, o que isso provaria? É fato inconteste (e não observação defeituosa, ou falsa interpretação) que entre os animais encontramos tanto a coprofagia como a pedofilia. Quem ousará defender a normalidade de tais práticas para os seres-humanos? [N. do R.]
[29] Porque o compromisso com essas teorias muitas vezes é muito forte (muito embora decidido antes de se verificar a necessária evidência), não causa surpresa que alguns teoristas resistam a renunciar elas. E assim, alguns agora sugerem que a causa do homossexualismo não é nem o ambiente e nem a hereditariedade, mas, antes, ambos em inter-relação entre si. Contudo, a discussão e a análise de inter-relações desse jaez longe estão da ciência exata (uma vez que é difícil mensurar ou confirmar as inter-relações). Ao invés de oferecer esperança de uma explicação científica da homossexualidade, uma tão obstinada sugestão parece simplesmente um par de baldes furados.
[30] 1Co 10.13.
[31] Mt 15.19.
[32] Rm 1.24,26,27.
[33] Rm 1.32.
[34] Ez 18.30,31; Sl 32.5; Lc 13.03,05.
[35] Ef 6.10-12; 1Pe 5.08,09; Tg 4.07.
[36] 1Pe 4.02-06; Ef 2.02-10; 4.17-24; Cl 3.05-10.
[37] Rm 6.1-22.
[38] 1Co 6.11.
[39] 1Ts 5.23; Gl 5.24; 2Co 7.1.

Extraído de: Homossexualismo: Uma análise bíblica - Greg L. Bahnsen

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